sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Inúmera


Um número. Dois, três, milhares deles. O que comprova que você realmente existe? Um número da certidão de nascimento? Um número do dia, mês, ano e hora em que nasceu? Um número de R.G.? Um número de C.P.F.? Um número de passaporte? Um número de carteira de trabalho? Um número do seu salário? Um número de vendas?  Um número da carteirinha de estudante? Um número do cartão de plano de saúde? Um número de cheques? Um número de registro em cartório de união civil?  Um número de mega-sena, dupla, lotomania etc? Um número do baú da “felicidade” (mas que despautério), um número de celular? Um número de C.E.P.? Um número no censo, um número de cartão de vale transporte, um número de placa de automóvel, um número no cartão de vale alimentação, um número no banco de ônibus, um número de amigos nas redes sociais, um número de cabeças de gado, ovinos, caprinos, suínos, equinos... Um número de quantia de dinheiro no banco(s), números de contas e número da conta; números de carros, imóveis, bicicletas, iates, motos, aviões, helicópteros... senha, as senhas, mil senhas. Um número na balança? Um número de calorias em cada alimento? Um número de roupas, sapatos, bolsas, maquiagens, perfumes, quilates... um número do sapato que calça... número da calça. Haja numeral para tanto número. Sou muito mais do que qualquer um desses números somados, multiplicados e elevados a qualquer potência. A tensegridade de forças que esmagadoramente nos impele a acreditar na vaga ideia de que números são relevantes, é o que deturpa o que mais real existe: a própria existência. Os números são dissonantes de qualquer vitalidade, são mudos, estáticos, frios e “calculistas”, literalmente (ou melhor, numericamente) falando.  Conspurcam todos os créditos de nossa existência, tornam o ser humano vil; e acreditar nos números é uma perfídia com o maior presente que Deus e todo o universo deu a cada um: o dom de ser, respirar, sentir e principalmente, respeitar - a si, aos outros, a todos.  Por fim, se o desengano impera, um número de receita, assinado por um médico com um número de C.R.M., para um número de medicamento anódino, o qual possui um número de códigos de barras. Todos têm código de barras? Será que tem um impresso na nuca de cada pessoa também? Se for, pode tirar o código de barras de minha nuca, pois meu valor é incalculável, imensurável, inestimável e infinito. Sou inúmera.

Agora, só mais um número: pode curtir.

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