Um número. Dois, três, milhares deles. O que comprova que
você realmente existe? Um número da certidão de nascimento? Um número do dia,
mês, ano e hora em que nasceu? Um número de R.G.? Um número de C.P.F.? Um
número de passaporte? Um número de carteira de trabalho? Um número do seu
salário? Um número de vendas? Um número
da carteirinha de estudante? Um número do cartão de plano de saúde? Um número
de cheques? Um número de registro em cartório de união civil? Um número de mega-sena, dupla, lotomania etc?
Um número do baú da “felicidade” (mas que despautério), um número de celular?
Um número de C.E.P.? Um número no censo, um número de cartão de vale transporte,
um número de placa de automóvel, um número no cartão de vale alimentação, um
número no banco de ônibus, um número de amigos nas redes sociais, um número de
cabeças de gado, ovinos, caprinos, suínos, equinos... Um número de quantia de
dinheiro no banco(s), números de contas e número da conta; números de carros, imóveis,
bicicletas, iates, motos, aviões, helicópteros... senha, as senhas, mil senhas.
Um número na balança? Um número de calorias em cada alimento? Um número de
roupas, sapatos, bolsas, maquiagens, perfumes, quilates... um número do sapato que calça... número da calça. Haja
numeral para tanto número. Sou muito mais do que qualquer um desses números
somados, multiplicados e elevados a qualquer potência. A tensegridade de forças
que esmagadoramente nos impele a acreditar na vaga ideia de que números são
relevantes, é o que deturpa o que mais real existe: a própria existência. Os
números são dissonantes de qualquer vitalidade, são mudos, estáticos, frios e “calculistas”,
literalmente (ou melhor, numericamente) falando. Conspurcam todos os créditos de nossa
existência, tornam o ser humano vil; e acreditar nos números é uma perfídia com
o maior presente que Deus e todo o universo deu a cada um: o dom de ser,
respirar, sentir e principalmente, respeitar - a si, aos outros, a todos. Por fim, se o desengano impera, um número de
receita, assinado por um médico com um número de C.R.M., para um número de
medicamento anódino, o qual possui um número de códigos de barras. Todos têm
código de barras? Será que tem um impresso na nuca de cada pessoa também? Se
for, pode tirar o código de barras de minha nuca, pois meu valor é
incalculável, imensurável, inestimável e infinito. Sou inúmera.
Agora, só mais um número: pode curtir.
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