quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Humanos

Muito além do que "alguém em quem acreditar", mesmo que essa pessoa seja em si mesmo, está acreditar em algo. Quando não se acredita em algo, algo além, não tem como acreditar em humanos. Porque todos nós somos falhos e postar a confiança em sujeitos passíveis de falha é burrice. Até nós enquanto sujeitos atuantes ou meros fantoches de um sistema construído por humanos - ressalto já, o erro paradoxal em si - somos faltantes. Cada um tem minimamente uma construção ou vislumbre daquilo que enseja e arquiteta para si, mas mesmo assim, pode entrar em contradição em seus caminhos e percorrer segundo a tal pílula vermelha da Matrix. Vê, mas não enxerga, escuta, mas não ouve. Acredita em tudo, menos na própria essência; possui uma concepção de atuação na existência, mas acaba traindo-a. De que é feita então essa angústia que nos consome? Mesmo quando tudo ao redor parece conspirar em prol do universo de 'boas ações', um vazio insiste em imperar...

"but it was only, fantasy/ The wall was too high, as you can see/ No matter how he tried, he could not break free/ And the worms ate into his brain/ Hey you/ Out there on the road/ Always doing what you're told/ Can you help me?"

Quem não tem impecilhos na vida cria seus próprios demônios. Dramático assim, com um texto Shakespeareano, um Hamlet perdido em questões existenciais. Os seres viventes recebem como dádiva divina o dom de existir, mas o renegam; bem como negam as mensagens celestes, dos caminhos a serem seguidos, estes preferem cegar-se tragicamente tal qual um Édipo. A dificuldade vincula-se primordialmente em distinguir o que é humano do que é alma, o que é carne do que é espírito. Dentro de cada um realiza-se esse embate, durante toda a existência terrena, e dificilmente é possível em vida estabelecer um rompante. Pois tal dualidade caracteriza-se como o princípio da essência, e esta, estabiliza-se por meio de seu oposto. A harmonia, igualdade na balança do lado negativo e do positivo, apresenta-se, deste modo, como um grito em silêncio, um ódio com amor. É..."ars longa, vita brevis" segundo Hipócrates, cujo nome tão sonoramente me remete a uma pantomima hipócrita da humanidade. Enquanto isso, cenas dos próximos capítulos da novela mexicana da vida:

"Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
Ando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas,
Passado, presente,
Participo sendo o mistério do planeta
O tríplice mistério do 'stop'
Que eu passo por e sendo ele
No que fica em cada um
No que sigo o meu caminho
E no ar que fez e assistiu
Abra um parênteses, não esqueça
Que independente disso
Eu não passo de um malandro
De um moleque do Brasil
Que peço e dou esmolas
Mas ando e penso sempre com mais de um
Por isso ninguém vê a minha sacola".



Um comentário:

  1. Uuuui! Me dá uma pílula vermelha de Matrix! E vamos fantasiar mais um pouco brincando de ser nossas projeções.
    Beijosmeliga!

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